Depois de ler este texto de Sérgio Faria em O Castelo:
Quando publiquei reflexões à volta desta diferença entre viver em liberdade e viver com liberdades, sabia que não me iria surpreender se alguém tivesse alguma reacção. Surpreendeu-me a reacção de quem e aquela. Não esperava aquela reacção naqueles termos e naquele sítio, e não a esperava de quem esperei (e muito desejei) outras que não tive.
Noutras circunstâncias – e noutros lugares – penso que aproveitaria a oportunidade para uma troca de ideias e um confronto de concepções e conceitos talvez interessantes, pelo menos para mim. Lamento que não nestas.
Assim, apenas deixo duas observações.
- Uma, comprovando que S.F. não entendeu (porque não quis?) o que eu escrevi. Na verdade, a distinção entre liberdade e liberdades pode aparecer ou ser tratada como falaciosa, mas é este tratamento que mostra não ter entendido (ou não ter querido entender) ao transformar o que está escrito como excessivas liberdades em «excesso de liberdade». Aí está uma diferença essencial: eu nunca escreveria excesso de liberdade mas reescrevo, persisto e assino que há liberdade em falta e liberdades (de) excessivas ou em excesso. Tal como, entre as liberdades de, para mim não faz o mesmo sentido a «liberdade de submeter e subjugar o mais fraco» (ligada à «liberdade de explorar» e, por isso, entre vírgulas e antes de acrescentado «independentemente das potenciais ou virtuais liberdades que este possa ter») e a «liberdade de apalpar ou sovar gajas»... e outras de idêntica formulação e intenção irónico-graciosa e amesquinhadora. Diria, isso sim!, que faz todo o sentido incluir na lista das liberdades de contra as quais luto em defesa da liberdade como a entendo, a «liberdade de discriminar socialmente (e politicamente, e economicamente, e culturalmente) em função do sexo» e outras que, nas leis e afirmações de direitos, até podem estar hipocritamente condenadas.
- Outra observação, para sublinhar que S.F., no “miolo” do seu texto explicita os seus conceitos por forma a confirmar que algumas liberdades (com ou sem aspas) não são liberdade ou que não são liberdade algumas liberdades. Pergunto se nestas incluiria ele a do livre mercado e a da livre circulação de capitais, tão liberdades, tão libérrimo um e tão libertina outra que muitas outras liberdades condicionam, vedam ou tornam tão-só virtuais para tantos e tantos, ou até as contrariam.
Sobre preconceitos e fés (boas ou más) nada acrescento pelo que, por fim, refuto a etiquetação, no início do texto, das variantes, em alternativa, beata ou pagã da concepção que adoptei de liberdade – enquanto consciência da necessidade –, como recuso, por ofensiva, a vocação para incorporação «em manada» de quem tem da liberdade um conceito que não tende a esgotar-se «em solidão».
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