segunda-feira, 22 de março de 2010

Liberdade-liberdades

Depois de ler este texto de Sérgio Faria em O Castelo:

Quando publiquei reflexões à volta desta diferença entre viver em liberdade e viver com liberdades, sabia que não me iria surpreender se alguém tivesse alguma reacção. Surpreendeu-me a reacção de quem e aquela. Não esperava aquela reacção naqueles termos e naquele sítio, e não a esperava de quem esperei (e muito desejei) outras que não tive.
Noutras circunstâncias – e noutros lugares – penso que aproveitaria a oportunidade para uma troca de ideias e um confronto de concepções e conceitos talvez interessantes, pelo menos para mim. Lamento que não nestas.
Assim, apenas deixo duas observações.

  • Uma, comprovando que S.F. não entendeu (porque não quis?) o que eu escrevi. Na verdade, a distinção entre liberdade e liberdades pode aparecer ou ser tratada como falaciosa, mas é este tratamento que mostra não ter entendido (ou não ter querido entender) ao transformar o que está escrito como excessivas liberdades em «excesso de liberdade». Aí está uma diferença essencial: eu nunca escreveria excesso de liberdade mas reescrevo, persisto e assino que há liberdade em falta e liberdades (de) excessivas ou em excesso. Tal como, entre as liberdades de, para mim não faz o mesmo sentido a «liberdade de submeter e subjugar o mais fraco» (ligada à «liberdade de explorar» e, por isso, entre vírgulas e antes de acrescentado «independentemente das potenciais ou virtuais liberdades que este possa ter») e a «liberdade de apalpar ou sovar gajas»... e outras de idêntica formulação e intenção irónico-graciosa e amesquinhadora. Diria, isso sim!, que faz todo o sentido incluir na lista das liberdades de contra as quais luto em defesa da liberdade como a entendo, a «liberdade de discriminar socialmente (e politicamente, e economicamente, e culturalmente) em função do sexo» e outras que, nas leis e afirmações de direitos, até podem estar hipocritamente condenadas.
  • Outra observação, para sublinhar que S.F., no “miolo” do seu texto explicita os seus conceitos por forma a confirmar que algumas liberdades (com ou sem aspas) não são liberdade ou que não são liberdade algumas liberdades. Pergunto se nestas incluiria ele a do livre mercado e a da livre circulação de capitais, tão liberdades, tão libérrimo um e tão libertina outra que muitas outras liberdades condicionam, vedam ou tornam tão-só virtuais para tantos e tantos, ou até as contrariam.

Sobre preconceitos e fés (boas ou más) nada acrescento pelo que, por fim, refuto a etiquetação, no início do texto, das variantes, em alternativa, beata ou pagã da concepção que adoptei de liberdade – enquanto consciência da necessidade –, como recuso, por ofensiva, a vocação para incorporação «em manada» de quem tem da liberdade um conceito que não tende a esgotar-se «em solidão».

No plano pessoal, sinto-me em liberdade desde quando tomei consciência (e partido), mesmo quando privado brutalmente de liberdades, com excepção de momentos em que (brutalizado) perdi consciência (e partido), logo recuperados para, com essa recuperação, em solidão recuperar a minha liberdade, ainda que preso, ainda que sem liberdades.

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