segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Mea culpa

(à Vilas Boas)
.
Li o longuíssimo suspiro com que Sérgio Faria reage ao que escrevi reagindo a um texto de um tal Nicky Florentino, personagem danada de sua criação mas que não existe e, ao que parece, apenas por descaminho fantasmagórico anda pelo miradouro de o castelo (agregador de "blogs" oureenses, diga-se). Mas tudo isto deve ser confusão minha que ando a ver fantasmas e sou dado a esoterismos, com reflexos em errados endereços e conteúdos que fazem suspirar enfastiadamente Sérgio Faria. Mea culpa.
Li uma vez o que me foi endereçado, e vou tentar poupar-me a ler segunda vez, pelo que agravarei, decerto, as minhas confusões sobre construções ficccionais, cuja subtil teia seria incapaz de totalmente abarcar ou de nelas embarcar. Já a pessoana me é difícil.
Este é o único ponto que quero esclarecer. O das minhas confusões. E esclarecido está.
Assim quer Sérgio Faria? Assim seja, ou tenha sido feito.
Quando ao resto, nada a fazer. Tenho pena, e mais ainda por não reconhecer reciprocidade.
Apenas peço que Sérgio Faria, diga o que quiser, não mais se refira às minhas prisões.
E acrescento que é tarde para deixar de ter a calejada falta de tempo e de jeito para conversas destas. Não porque não goste de esgrima, embora mais de florete e nada de espadeirada, mas porque quero ocupar o resto da minha vida a cumprir o partido que tomei (redundo no sublinhado da pequenez da letra p de partido), de procurar fazer o melhor que puder, ainda que nada seja, por 10 milhões de conterrâneos e vindouros, de centenas de milhar de milhões de chineses e vindouros, de 5 cubanos em Miami, de um chinês em Pequim, para denunciar o que se está mesmo a ver ser ludíbrio (lista com muitos itens a intercalar, sem que perturbem uma hierarquia de prioridades). Agora, ocupam-me sobretudo os PECs, OE para 2011, a Greve Geral e essas coisas tão menores e, para tantos directamente interessados, tão desinteressantes.
Et par le pouvoir d’un mot
je recommence ma vie,
je suis né pour te nommer,
pour te connaître :
liberté

(Eluard)

8 comentários:

Sérgio Faria disse...

cinco pontos (embora à Villas-Boas devessem ser mais), em duas partes.

parte um.

um. o meu suspiro acolá não foi longuíssimo. foi um suspiro sem dimensão correspondente à do texto que escrevi, enunciado no princípio dele porque foi assim que começou. porquê? não por fastio como pretende Sérgio Ribeiro, mas porque, desde a imputação de um post de Nicky Florentino a mim, passando pela adulteração de parte de tal post, até ao facto de Sérgio Ribeiro não encontrar a justificação para a atribuição do nobel da paz deste ano a Liu Xiaobo e declarar ser desconhecido o motivo pelo qual Liu Xiaobo está encarcerado, tudo isto me pareceu absurdo e evitável pelos motivos já expostos e expressos também acolá.

dois. Nicky Florentino existe, existe na condição e na existência de personagem que é, não existe é em figura de gente, ou seja, não é e não tem intenção de ser pessoa.

três. o albergue dos danados é replicado no miradouro d'o castelo. embora possa parecer a Sérgio Ribeiro que o caso mete fantasma, tal facto não faz com que qualquer das personagens aí albergadas sejam ou tenham intenção de ser oureenses. e não tenho memória de alguma vez Sérgio Ribeiro - incluindo as vezes em que citou qualquer das personagens do albergue dos danados, nomeadamente Nicky Florentino, no blog dele - ter manifestado estranheza por tal acontecer, a ponto de eu perceber indício de que ele não percebia que as personagens do albergue dos danados - ou quaisquer outras desgraçadas - não são Sérgio Faria a fazer de conta que não é Sérgio Faria mas que, apesar disso, são Sérgio Faria. portanto, atenção, achtung!, cuidado, cuidadinho, ó vós, há coisas que aparecem no miradouro d'o castelo que não são escritas por oureenses. não me parece que seja exigida competência ordinária ou extraordinária em relação ao universo dos desdobramentos literários pessoanos ou à lógica heteronímica para admitir e perceber isto. até porque, enquanto exercício, o albergue dos danados não teve, não tem e não se pretende que tenha alcance do género. ou sequer subtileza.

Sérgio Faria disse...

continuação dos cinco pontos (embora à Villas-Boas devessem ser mais).

parte dois.

quatro. desconheço o motivo por que Sérgio Ribeiro declara pena, «mais ainda por não reconhecer reciprocidade» em relação ao que escrevi. se percebi o sentido desta passagem, quanto a isto apenas tenho a declarar que sou adepto da parrésia e esforço-me por a praticar. e que com tudo isto rio - de rir, não de correr para o mar ou de estar na câmara municipal do porto - mais do que levo a peito, embora leve a sério - e não esteja disponível para ceder em - o que concerne à liberdade.

cinco. pede Sérgio Ribeiro que doravante me abstenha de fazer referência «às prisões dele». não posso corresponder a tal pedido por chocar com a minha liberdade. se e quando julgar justificado, não prescindo de falar ou escrever sobre assuntos e factos públicos ou a que foi dada publicidade por procedimento ou via decente e consentida por quem com eles implicados, estejam tais assuntos ou factos relacionados com quem quer que seja. se não correspondo ao pedido formulado por Sérgio Ribeiro não é por desconsiderar ou desprezar um - o pedido - ou outro - Sérgio Ribeiro. apenas não estou disponível para deixar-me prender em tabus que não são tabu ou renunciar à liberdade que tenho. pelo respeito que entendo dever a mim e, no uso da liberdade que é minha - e igual à dos outros -, dever a qualquer pessoa, portanto também a Sérgio Ribeiro. até porque considero que as vezes e as circunstâncias em que Sérgio Ribeiro esteve preso não foram historicamente em vão e, apesar do sofrimento e da injustiça que lhe valeram em termos pessoais, contribuíram para as condições de liberdade que existem actualmente e que tenho consciência da necessidade e intenção de usar conforme o meu juízo. que pode ser alienado mas é o que tenho e não tenho - pode ser efeito da alienação que me afecta - capacidades taumatúrgicas ou propensão a crer em quem ou em entidade que as tenha.

Sérgio Ribeiro disse...

Sérgio Faria -
um - anotei a correcção ao tamanho do suspiro, e que ele resulta não de fastio mas de considerar absurdo e evitável o que tenho a liberdade de considerar nem absurdo nem evitável. E já que refere adulteração minha ping-pongo adulteração sua: não declarei ser desconhecido o motivo pelo qual Liu Xiaobo está encarcerado.
dois, três - passo!; estou totalmente esclarecido (e que não estivesse, que importa?) da extra-territorialidade dos danados que alberga.
quatro - tenho pena de me parecer que "quanto ao resto, nada a fazer"... mas este é problema meu que não deveria ter deixado escapar para as teclas.
quinto - apenas pedi!; nunca me atreveria a beliscar a sua liberdade, nem a de ninguém, dentro de respeito que devo aos outros, em particular a si, e a mim; como é evidente, e conforme ao seu juizo, usará a sua liberdade de corresponder ao meu pedido ou não.

Sérgio Faria disse...

escreveu Sérgio Ribeiro neste post que “não encontrava justificação para a atribuição deste galardão [- o nobel da paz deste ano -] àquele chinês que está preso por razões chinesas, por mais discutíveis que estas sejam (depois de conhecidas, acho eu…)”.

presumi que, se Sérgio Ribeiro achava que as «razões» pelas quais «Liu Xiaobo está preso» seriam discutíveis «depois de conhecidas», isto significava que, antes de conhecidas - situação em que se estaria -, tais «razões» seriam desconhecidas. se assim não é, óbvio, erro de leitura meu, deturpação minha.

Sérgio Ribeiro disse...

Com um hábito de que me não quero desapegar, procuro sempre, e sempre encontro, falhas no que fiz e como fiz que poderão explicar pelo menos parte da incompreeensão dos outros.
Exemplifico:
1. Deveria ter sublinhado DESTE galardão, porque NAQUELA minha argumentação o busilis está naquele galardão. Atribuam a Liu outro galardão - o dos dissidentes ou coisa assim - e teria ficado calado... ou arranjaria OUTRA argumentação.
2. No que escrevi, aquele entre parenteses ("(depois de conhecidas, acho eu…)"), a seguir a "razões chinesas, por mais discutíveis que elas sejam", até poderia não ter aparecido mas saltou-me porque há razões (chinesas) que quem ataca a Chna em nome de um conceito de liberdade (discutível, acho eu...) não conhece nem quer conhecer.
E pronto!

Sérgio Faria disse...

a propósito da incompreensão dos outros. quão fácil seria reverter esta sentença de Sérgio Ribeiro
«há razões (chinesas) que quem ataca a china em nome de um conceito de liberdade (discutível, acho eu...) não conhece nem quer conhecer»
nesta
«há razões (chinesas e não chinesas) que quem defende a china em nome de um conceito de liberdade (discutível, acho eu...) não conhece nem quer conhecer».
ou em esta outra
«há razões (chinesas e não chinesas) que quem ataca o comité nobel norueguês em nome de um conceito de liberdade (discutível, acho eu...) não conhece nem quer conhecer».

João Pereira disse...

Ó senhores, o que para aqui vai! Entendam-se de uma vez por todas...

Sérgio Ribeiro disse...

Pronto... não é incompreensão dos outros. Era lá possível!
É incompreensão minha, coisa em que sou muito useiro. E parece-me que já o disse. Ou talvez não... Fica dito.
E não me apetece nada jogar mais este jogo. Troquei as palavras cruzadas pelo sudoku. Com números tem mais piada.
Quanto a João Carlos Pereira e Friends, seja bem aparecido. E se esta troca de palavras (decerto demasiadas) o trouxe até aqui teve essa vantagem, além de eventualmente outras.